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Qual é o seu lado, afinal?!*

Por Gildson Gomes dos Santos**

 

Afinal, qual é o seu lado? É comum ouvir-se esse tipo de pergunta em Ribeira do Pombal. Sobretudo quando o assunto é política. É, realmente, engraçado como alguns desavisados acham e difundem que em nosso Município existe um modelo político pronto para quem nele desejar se enquadrar.

Em meados de 1999, quando ainda atuava exclusivamente na militância advocatícia assessorando a Câmara Municipal de Ribeira do Pombal, um ex adverso alertou-me de que “aqui em Pombal ou você está dum lado ou do outro”. Tinha acabado de regressar de São Paulo e fiquei a me perguntar. Depois de nove anos matutando, finalmente, concluo que o argumento laçando por meu adversário é deveras equivocado.

Lados existem na política, é verdade. Todavia, aqui em Ribeira do Pombal, o que existia até pouco tempo não eram lados na concepção política do termo. Lados divergentes, contrastantes. Mas, sim, facções políticas de um mesmo naipe. A prova definitiva acaba de ser produzida nos autos da ação popular ajuizada na Justiça Federal contra o G12 (grupo dos 12) que, segundo o juiz federal Fábio Ramiro, atuaram formando uma malha de atos escusos que possibilitou a fraude licitatória denunciada.

O G12, liderado pelo prefeito José Lourenço Morais da Silva Junior (Zé Grilo)ascendeu ao poder na crista dos escândalos de corrupção praticados pelo G9 (grupo dos 9), liderado pelo big boss Edvaldo Cardoso Calasans, o famoso Dadá, que foi pra cadeia em virtude de um processo criminal no qual se apura um rosário de praticas criminosas, como também responsabilizado pela Justiça Federal, pelos tribunais de contas da União e dos Municípios do Estado da Bahia a devolver aos cofres da Prefeitura de Ribeira do Pombal, ATÉ O MOMENTO, cerca de R$ 1,5 milhão.

Zé Grilo tá sendo processado por ter tachado Dadá de “marginal da política”. Mas o fato é que ambos formam uma indesejável parelha tanto no campo da ilicitude quanto no da política. Ambos respondem a processos por fraudes em licitações, e ambos transitam na política com semelhante desenvoltura. Já foram carlistas, já foram oposicionistas e adesistas. São também fisiológicos. Zé Grilo detesta esse tipo de comparação. Cumpre a ele demonstrar, porém, que as provas não são concludentes.  

O fato é que o conceito de “lado” não pode ser situado no vazio. Dizer que fulano é dum lado e que sicrano é doutro não me parece suficiente. Temos de saber também qual é o lado bom e o lado ruim. Quem é do bem?! Quem é do mal!?. Ora, não parece razoável concluir que dois “lados” ruins sejam “lados” diferentes. Se são ruins, são ruins e pronto. São, portanto, do mesmo “lado” (da indecência), embora possam se apresentar como facções antagônicas, contraditórias devido a disputas de interesses escusos.

É o que ocorre, por exemplo, nas disputas de gangs adversárias, que atuam no mesmo campo: o do crime. Logo, do lado do mal, da indecência. E do lado oposto (da decência) quem atua? Os homens da lei. Os cidadãos decentes. Aqueles que cultivam os princípios e valores caros à sociedade. As pessoas investidas na função de autoridadades executoras da ordem jurídica em vigor. De um lado o bandido, do outro a polícia, quando os campos se confundem os lados deixam de existir, anulam-se, misturam-se.

Na política de Ribeira do Pombal existem, de fato, dois lados. O lado dos que praticam o bem, a decência, e o lado dos que praticam o mal, a indecência. Neste se aninha as facções (grupinhos) que formam o GM (Grupão da Malversação) do dinheiro público e que vêm se revesando no poder de há muito; e naquele os que lutam por uma vida decente, pela boa e fiel aplicação dos dinheiros públicos, que defendem a moralidade administrativa, a decência. Parece então evidente que os grupinhos liderados por Dadá e Zé Grilo caracterizam-se pelas notas do GM. Fato que os colocam no mesmo naipe, no mesmo patamar, no mesmo nível, no mesmo lado: o lado da picaretagem, da indecência.

Essa, com o devido respeito, parece-me a forma mais racional de se enquadrar a política de Ribeira do Pombal, onde as bandas “A” e “B” do falecido carlismo resistem sob a forma do GM, marcado por vícios antinômicos com os pricípios de legaliade e moralidade administrativas, principalmente com o da decência; por velhas práticas patrimonialistas, oligárquicas, caudilhistas.*** O lado da decência, é ainda embrionário. Mas vem dando sinais de que tem potencial para detonar as velhas estruturas.

Amigo leitor, em que pese essa vexatória situação, não tenho a mínima pretensão ou desejo de interferir na sua decisão. Fique à vontade para escolher o lado no qual seu perfil se ajusta com mais conforto, no da decência ou no da indecência. Afinal, como profetizou Rui Barbosa, uma das mentes mais brilhantes deste País, “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.**** Boa sorte!

* Revisado.

** É doutorando em ciências jurídicas e sociais na Universidad del Museo Social Argentino, Buenos Aires – ARG.

*** No primeiro ano desta legislatura, o governo municipal dava sinais de que estava disposto a respeitar o pluralismo de idéias, a se desviar dos antigos vícios que envergonham a política do nosso Município. Cheguei a afirmar isso num artigo publicado pelo próprio governo no jornal Tribuna Regional. A tendência não foi, porém, sustentada. O trem acobou descarrilando.

****Rui Barbosa – Discursos Parlamentares – Obras Completas – Vol. XLI – 1914 – TOMO III – pág. 86/87

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