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Medicamentos

O Viagra do sono
Remédio que permite ficar acordadopor até três dias vira febre entre americanos. Por aqui, aguarda liberação
Por Osmar Freitas Jr. – Nova York

A empresa farmacêutica Cephalon imaginava apenas ajudar as vítimas da narcolepsia, distúrbio caracterizado por sonolência súbita e incontrolável. Para isso criou a droga modafinil, lançada na França com o nome Modiodal e depois nos Estados Unidos, onde foi batizada de Provigil. Os resultados foram instantâneos: a eficácia é indiscutível. O problema é que a substância não age somente nos doentes, mas atua também sobre todos os que dormem regularmente. Dependendo da dose, mantém os indivíduos acordados por até três dias, aumenta a capacidade de raciocínio, dá energia, e sem causar dependência. Pára-se de tomar a pílula e volta-se a dormir como um bebê. Foi o suficiente para que um exército de executivos viciados em trabalho e dispostos a subir na escada corporativa transformasse o modafinil na vitamina cotidiana de seus sonhos. Uma espécie de Viagra do sono.
O remédio se tornou uma febre. As vendas passaram o patamar dos US$ 150 milhões só neste ano. Quem consome adora o efeito. “Há melhora do raciocínio e muita energia”, conta Alice Winwood, executiva da empresa de informática CA, de Nova Jersey (EUA), e uma das novas fãs da droga. Ela garante que ficou dois dias sem dormir e, quando quis, adormeceu sem problemas.
As Forças Armadas americanas foram pioneiras no uso alternativo do modafinil. Foram montados testes com pilotos de helicópteros e de bombardeiros. A tropa foi capaz de voar por 48 horas sem pregar os olhos, bombardear alvos no Afeganistão e voltar às bases sem cometer erros. Vieram em seguida os soldados, que o governo quer transformar em superguerreiros para combater por dias contínuos sem dormir. “Quando voltaram à vida civil, os pilotos que serviram de cobaia levaram o modafinil em suas bagagens. Daí a moda se espalhou”, diz o major médico Herbert Schoëdir, do Serviço de Hospitais de Veteranos.
O modafinil atua no sistema nervoso central como um estimulante. Seu efeito dura em média 15 horas. Mas estudos mostraram que uma dose de 400 miligramas (cada comprimido tem 100 miligramas) mantém a vigília por até 72 horas. E o problema está aí. Ninguém sabe as conseqüências desse uso por tanto tempo. “O que acontece, por exemplo, com as artérias do coração?”, indaga o geriatra Steve Hamm, de Nova York. O que se sabe é que a privação de sono produz efeitos. “Irritabilidade, queda de imunidade e aumento da pressão arterial são alguns deles”, explica a especialista em sono Lia Bittencourt, da Universidade Federal de São Paulo. A médica acaba de concluir um artigo sobre o remédio. Ela avaliou seu efeito em pessoas com apnéia – interrupção da respiração durante o sono – que mesmo com os tratamentos convencionais ainda apresentavam sonolência fora de hora. “O produto os deixou mais em alerta”, diz.
No Brasil, o modafinil aguarda liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Para aumentar a polêmica em torno dele, estudos sugerem sua eficácia contra a dependência de cocaína. Uma das hipóteses é a de que ele elevaria a capacidade de controle dos impulsos que levam à droga. Porém, isso não está comprovado. Mas é outra mostra de que o remédio vai dar muito o que falar.

Fonte: Isto é (http://www.terra.com.br/istoe/)

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