Belo Horizonte, 19/09/2007 – por Wille Muriel Cardoso*
Meu entrevistado do mês é um educador, que sonha e transforma a realidade. Como Diretor Acadêmico de uma IES localizada em uma cidade baiana perto da fronteira com o Estado de Sergipe, no chamado polígono da seca, o Professor José Wilson, licenciado em Letras pela Universidade Federal do Sergipe, parece não ter do que se queixar.
Atendendo aos estudantes do nordeste da Bahia e do centro-sul de Sergipe, a Faculdade AGES onde ele trabalha, credenciada para operar no município de Paripiranga (com quase 30 mil habitantes), oferece cursos de Administração, Ciências Contábeis, Direito, Letras, Normal Superior, Pedagogia e agora se prepara para oferecer os cursos de Enfermagem e Educação Física.
Mas o fato é que esta Instituição vem se destacando nos resultados das avaliações oficiais do ENADE. Pela posição no ranking nacional, o Curso de Letras já havia conquistado a segunda maior média em 2005. O Curso de Ciências Contábeis por sua vez conquistou a primeira maior média nacional em 2006 e o Curso Normal Superior a sétima maior média também no ENADE do ano passado. Outro dado relevante é a inserção de 100% dos egressos no mercado de trabalho, seja por concursos ou por ações empreendedoras como empresários.
Diante de tantos resultados positivos, algumas questões passaram a me incomodar: Como uma Instituição credenciada há poucos anos, localizada em uma região que não se caracteriza pela produção acadêmica abundante, que não concentra um contingente significativo de docentes e técnico-administrativos altamente qualificados para a prestação de um serviço educacional excelente, uma região que, por suas características gerais, representa um enorme desafio para o gestor de IES preocupado com a qualidade acadêmica, enfim, qual é “o segredo” desta gestão? O que faz a Faculdade AGES apresentar resultados tão expressivos?
Então eu fui perguntar diretamente para o colega de MBA – Administração Acadêmica & Universitária, o próprio Professor José Wilson, que numa agradável conversa de final de sexta-feira revelou sem nenhum constrangimento, alguns destes “segredos” utilizados pela Instituição que dirige em parceria com seus colaboradores. E antes que eu cometa a indelicadeza de contar, já na introdução desta entrevista, a “moral da história” o melhor é ver o que disse o nosso colega gestor da Faculdade AGES.
GU: Como é que a sua Instituição consegue esses resultados?
Trabalhamos a competência pedagógica e estimulamos o diálogo entre os professores. Temos reuniões semanais que duram em média quatro horas onde se discute as principiais questões acadêmicas da IES. Valorizamos a competência didática do professor e a capacidade de inovar. Semestralmente convidamos um grande nome da área pedagógica para um seminário em nossa IES e oferecemos uma pós-graduação lato sensu em Didática e Práticas no Ensino Superior para todos os nossos docentes. Temos professores de quinze estados brasileiros e eles são contratados em regime de dedicação exclusiva – a nossa Faculdade é uma academia. Essa expressão “academia” está internalizada na mente das pessoas que trabalham na Faculdade AGES. O professor e o aluno são dois “pilares” que fundamentam nossas ações.
GU: E este Projeto é auto-sustentável?
A Faculdade emprega, entre professores e técnico-administrativos, 232 funcionários e não terceiriza mão-de-obra em nenhum serviço que oferece. O Projeto é financiado prioritariamente pelas mensalidades e em parte pela exploração de serviços satélites da Faculdade (restaurante, livraria e loja de conveniência, dentre outros serviços). Não terceirizo, pois não quero perdem de vista a qualidade.
GU: Qual o perfil do seu aluno ingressante nos cursos que a sua IES oferece e como vocês trabalham com esse aluno?
O aluno é o centro do processo de ensino / aprendizagem. Na nossa Instituição o professor constrói o conhecimento com o aluno – não há aula de conteúdo. O aluno trabalha resolvendo problemas dentro de um contexto. Todas as disciplinas são voltadas para a produção acadêmica, lemos, no mínimo, cinco livros por semestre e produzimos uma resenha, um artigo acadêmico, um livro – tudo gera um produto. Na nossa IES, todo discurso deve ser conduzido para uma ação concreta.
O perfil geral é de um aluno jovem, trabalhador, vindo de escola pública e não é fácil inseri-lo dentro de um conceito de produção acadêmica. Para isso criamos uma disciplina que se chama Inserção do Estudante ao Ensino Superior (ministro pessoalmente esta disciplina). Por ela os alunos passam a conhecer alguns conceitos fundamentais para o bom andamento das atividades acadêmicas: O que é o ensino superior? O que é o conhecimento? O que é uma IES? O que é a academia? A partir desta compreensão é que eu apresento as outras partes, como a infra-estrutura e os valores da Faculdade.
Temos um órgão que se chama Programa de Apoio ao Estudante da Educação Básica e Superior (PAEBS). Lá trabalham cinco professores que são alunos egressos da Faculdade AGES. Estes docentes são escolhidos dentre os melhores alunos egressos e eles conhecem o Projeto – são, na verdade, candidatos a professores das disciplinas dos cursos da Faculdade. No PAEBS identificamos fragilidades e potencialidades dos alunos e trabalhamos em várias dimensões, além da formação em língua portuguesa, matemática, produções acadêmicas, monografias etc. Com o PAEBS o nosso estudante se sente amparado, pois pode contar com alguém para discutir os problemas encontrados ao longo da sua formação e é, por outro lado, um fornecedor de informações importantes para a melhoria da qualidade do nosso serviço educacional.
Na época de estágio fazemos uma avaliação geral quanto ao preparo do estudante em relação ao estágio supervisionado. Será que ele está preparado para o Estágio? Se não estiver preparado ele cursará todas as disciplinas preparatórias sem pagar um centavo por isso, pois entendemos que se ele não está pronto o insucesso é de toda a Faculdade.
GU: Qual a origem destas idéias? Onde nasceram e quando foram apresentadas para a implantação?
A visão de planejar, refletir, avaliar e retro-alimentar os processos, em âmbito coletivo, originou-se no Colégio AGES, em 1982, transcendeu para a Faculdade e tornou-se consistente e visível a partir dos resultados recentemente alcançados. Mas esse processo tem origem em nossa gestão participativa.
GU: Em linhas gerais, como você conceitua a gestão participativa?
A forma mais objetiva para conceituar a Gestão Acadêmica Participativa é vê-la como um processo de mobilização de competências e energias de pessoas motivadas de uma organização, para que, pela participação ativa, respondam coletivamente aos desafios previstos nos objetivos educacionais, compreendidos e abraçados por todos.
GU: Que benefícios a Gestão Acadêmica Participativa trás para grupo gestor da IES?
A participação ativa nos processos institucionais permite que as pessoas tenham a oportunidade de construírem sua autonomia ao assumirem a responsabilidade pelo desempenho e auto-gestão de suas tarefas. Mediante a prática dessa participação, é possível superar o exercício do poder individual e promover a construção do poder da competência, centrado na instituição como um todo.
O sentido da participação num ambiente acadêmico perpassa pela humanização dos processos ao compartilhar deveres e obrigações, evidenciar talentos baseando-se na eqüitativa convergência de interesses entre equipes técnicas administrativa e pedagógica, professores, estudantes e sociedade.
Estas práticas possibilitaram a elaboração de todas as estratégias de gestão acadêmica que utilizamos e conseqüentemente, dos resultados que estamos colhendo. Aliás, cabe ressaltar, o resultado não é só o ENADE. A formação humana e técnica que está gerando uma inserção no mercado de trabalho e uma melhoria na qualidade de vida que é a missão da Instituição. Este aluno egresso normalmente trabalha na própria região e a nossa missão é a de “contribuir para o desenvolvimento da região e a melhoria da qualidade de vida das pessoas”.Parece que estamos cumprindo a nossa missão institucional.
GU: E por falar em missão… Qual é a sua visão para o futuro da Faculdade AGES?
Quero que a Faculdade AGES seja uma referência nacional em qualidade de ensino. Meu sonho não é de quantidade. Quero construir um lugar onde você possa mandar o seu filho e que ele tenha acompanhamento psicológico, didático, e que seu aprendizado seja monitorado para que possa ser efetivo. Estamos criando um hotel para acolher acadêmicos de todo o Brasil.”
______________
* Wille Muriel Cardoso é Diretor de Marketing da Carta Consulta
ColunaWILLE MURIEL
willemuriel@cartaconsulta.com.br
Luiz Fernando R. de Sales
05/02/2016
Deivison Conceição
04/11/2015
Gildson Gomes dos Santos
04/11/2014
Gildson Gomes dos Santos
27/09/2014
Luciana Virgília Amorim de Souza
25/09/2014