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A hora e a vez de Geddel (e Lula)

Por Vitor Hugo Soares – Jornalista, é editor de Opinião de A TARDE, no Blog do Noblat, ontem:

“A batida do martelo e o convite do presidente Lula ao deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) para pilotar o cobiçado ministério da Integração Nacional onde o político baiano irá gerir um dos mais suculentos orçamentos do País – R$ 5 bilhões só para o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco – , são dessas decisões de abalar alicerces na política e no governo. A escolha terá , seguramente, maiores e mais profundas conseqüências do que o calundu dos senadores José Sarney e Renan Calheiros, ou da oferta de uma providencial porta de fuga de emergência ao ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, que viu naufragar o sonho de tomar de Michel Temer o leme de capitão da antiga nau de Ulysses Guimarães.

No já desconjuntado PFL da Bahia, por exemplo, a oferta de um assento privilegiado a Geddel no ministério de Lula parece provocar nos principais cardeais do partido no Estado – a começar pelo senador Antonio Carlos Magalhães – uma inquietação semelhante à gastura sentida por Nhô Augusto, no conto “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, quando se vê desarmado diante do capiau mineiro criado por Guimarães Rosa. em um dos mais primorosos textos sobre vingança em qualquer idioma .

Os manuais de jornalismo recomendam a contextualização dos fatos quando se deseja estabelecer paralelos com outras situações . Nesse caso político é preciso recuar um pouco, até o primeiro turno da campanha presidencial do ano passado, quando o PFL baiano julgava favas contadas a vitória de Paulo Souto sobre o petista Jaques Wagner para o governo estadual. ACM e outras figuras de proa do partido – a exceção de Souto – começaram a promover ataques com artilharia pesada – alguns pessoais – contra Lula, na estratégia equivocada de reforçar a cambaleante candidatura do tucano paulista Geraldo Alckmin .

Do Planalto partiu um aviso: os pefelistas da Bahia , principalmente o seu chefe, deveriam moderar as agressões ou Lula estava decicido a sentar praça em Salvador e utilizar todo o peso de sua histórica e decantada ligação com o eleitorado local para destroçar o domínio do carlismo durante décadas. Em resposta, os ataques recrudesceram e o ocupante do Palácio do Planalto foi chamado até de “incompetente e ladrão”. Dias depois Lula desembarcava em cima de um palanque no Farol da Barra. Em comício apoteótico, começou a dinamitar as vigas mestras do PFL em uma das suas cidadelas mais poderosas, e, aparentemente, inespugnável.

Com o diabo no corpo na terra de todos os santos – a imagem é de jornalistas presentes – Lula espumava: “fui ofendido, insultado, chegaram a falar em impeachment”, disse como justificativa . Bateu “nas elites” com tanta força quanto Leonel Brizola nos melhores tempos, e observou como já fizera antes o líder gaúcho: “aqui na Bahia temos o exemplo mais perverso dessas elites”. Metralhou e seguiu atirando contra ACM e seus descendentes.

Com a vitória na Bahia do petista Jaques Wagner no primeiro turno, e do próprio Lula em seguida, no País, até mesmo a banda mais pessimista do PFL julgava que a sede de vingança estivesse aplacada. No entanto, o convite desta semana feito a Geddel – cria política de Antonio Carlos, ex-desafeto e forte aliado recente do presidente, mas principalmente o inimigo mais implacável do carlismo dos últimos anos na Bahia – para o Ministério da Integração Nacional, lança no espaço sinalizadores evidentes de que a estratégia de ocupação pelos atuais aliados PT e PMD do antigo reino nacional do PFL segue de pé. Dinheiro de sobra e disposição aparentemente não irão faltar. Uma vez no trono, Geddel disporá dos meios para atuar, com seu estilo próprio e notório, em cada cidade ou pé de pau do vasto império político fundado e mantido durante décadas por ACM .

E voltamos ao conto “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” , quando o autor descreve a vingança do capiauzinho de Minas contra o poderoso Nhô Augusto, que lhe tomara a amada em uma noite de quermesse atrás de igreja, no arraial da Virgem Nossa Senhora das Dores do Córrego do Murici. Não conto mais para não estragar o interesse pela leitura dessa história saída da pena mágica de Guimarães Rosa, nem o impacto de seu desfecho surpreendente. Boa leitura.”

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