Todo brasileiro com direito a voto deveria voltar os olhos para Recife.
Vem de lá o mais importante sinal de alerta da cruzada eleitoral de 2008.
Há coisa de uma semana, a imprensa pernambucana dedica-se a esmiuçar um caso desalentador. Envolve a câmara local de vereadores.
A coisa estourou no instante em que veio à tona o resultado de uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco.
Servidores do tribunal esquadrinharam despesas dos legisladores municipais. Gastos custeados com a famigerada verba de gabinete: R$ 14,3 mil mensais.
Processo minucioso. Cobre os anos de 2006 e 2007. Os achados rechearam mais de 3.000 páginas, espremidas em 15 volumes.
Há na Câmara Municipal de Recife 36 vereadores. Não escapou nenhum. Repetindo: encrencaram-se todos, sem uma mísera exceção.
Pior: incluindo suplentes e vereadores licenciados, o número de suspeitos escala a casa dos 42. A tunga aos cofres do município é estimada em R$ 1 milhão.
Há entre os envolvidos 26 cuja situação é mais vexatória que a dos demais. Levaram à contabilidade da câmara notas e recibos de fancaria.
Há notas fiscais frias, documentos de empresas diferentes com caligrafia idêntica, recibos de firmas fantasmas, assentadas em endereços inexistentes, o diabo.
Chamados a dar explicações, alguns vereadores apressaram-se em devolver a grana. Outros, em cujas contas não foram farejados papéis inidôneos, não chegaram a tanto.
Do tribunal de contas, o caso escorregou para os escaninhos do Ministério Público, que decidiu, também ele, perscrutar os malfeitos.
Entre reembolsos apressados e explicações mal arrumadas, a cena eleitoral de Recife ferve. Natural. Uma parte dos vereadores pede votos nas ruas, em busca da reeleição.
Consagrado no Congresso Nacional, o modelo das “verbas de gabinete” é mimetizado Brasil agora pelas câmaras municipais.
Ganha uma viagem a Recife, custeada com as verbas de um gabinete qualquer, quem adivinhar onde vai parar o maior bocado desse dinheiro.
Recheia os bolsos de espertalhões. Em Brasília, em Recife e alhures. Entre todos os desvios que infelicitam a política brasileira, este é, talvez, o menor.
É um vício que, por miúdo e comezinho, tornou-se tão insípido quanto a virtude. Daí a sua relevância. Quem se suja com tão pouco, o que não fará no muito?
Repise-se a frase lá do alto: Todo brasileiro com direito a voto deveria voltar os olhos para Recife. Vem de lá o mais importante sinal de alerta da cruzada eleitoral de 2008.
Numa disputa em que o STF deu carta branca a candidatos sujos, não resta ao eleitor senão a alternativa de fazer justiça com os próprios dedos. Na urna eletrônica.
Entre todas as casas de representação do povo brasileiro, as câmaras de vereadores são as mais antigas. Surgiram com as primeiras vilas.
De casas de distinção, converteram-se em algo que os cariocas apelidaram de “gaiolas de ouro.” De quem é a culpa? De muita gente. Mas o primeiro responsável é o eleitor.
Portanto, senhoras e senhores, olhem para a capital de Pernambuco. Depois, reparem no que se passa à sua volta. Por último, dê uma boa espiada no espelho.
Do blog do Jozias de Souza, 10/08/2008.
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