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Futebol, filosofia e política: a vantagem do debate

Por Gildson Gomes dos Santos

“Acaba de ser firmada a tese de que só existe político ladrão porque tem eleitor disposto a votar nele.”

O problema da arte do convencimento se põe para a Humanidade pelo menos desde o Séc. V a.C, com os sofistas pré-socráticos, que num primeiro momento foram tidos como homens sábios para, depois de Sócrates, serem tachados de supostos enganadores. No Séc. XIX d.C, o filósofo germânico Arthur Schopenhauer escreveu uma obra, cujo título traduzido para a flor do lácio significa “Como vencer um debate sem precisar ter razão”. E por aí vai.

Estamos agora no Século XXI. Com precisão meridiana, na arquibancada do estádio de futebol do Complexo Ferreira Brito, em Ribeira do Pombal, por volta das 21 horas, do dia 14/03/2008, para onde Vinícius Santana e eu nos dirigimos com o objetivo certo de assistir a perfomance do Bahia do povoado Feira da Serrra, que jogava desesperadamente contra o bicampeão municipal Vasco da Gama.

Enquanto o Bahia buscava a classificação o Vasco resistia bravamente contra tal intento. Os vascaínos chegaram até mesmo a inaugurar o placar. Contudo, enquanto a bola rolava, perguntas de lá preocupuções filosóficas de cá foram tecendo um profícuo e interessante debate entre Vinícius e eu.

Talvez estimulado pela realidade que nos rodeava (tínhamos diante de nós o prefeito da cidade papeando com um simpática loira ao tempo em que casualmente se distraia com lances da partida) mandei:

– Sinceramente eu não sei como alguém que foi condenado a devolver R$ 700 mil aos cofres públicos tem a cara-de-pau de postular novamente a gerência do dinheiro público.

A trivial poderação lançada por mim abriu para Vinícius um enorme campo de reflexão. Para me confortar, Vinícius poderia simplesmente ter endossado a minha indignação. Seria o normal. Mas não! Diante de mim irrompeu-se um brilhante sujeito pensante. Alguém que está acima da média:

– Eu acho que esse cara tá certo. É um direito dele. Quem pratica desvios na gestão da coisa pública não perde o direito de pleitear o cargo eletivo novamente. Mesmo aqueles que foram flagrados metendo a mão no dinheiro público.

Vinícius, no entanto, se apressa em esclacer:

– Doutor, a incoerência não reside no gestor ímpobro, cujo desejo de roubar o povo sempre o moverá, mas sim no eleitor que nele vota. Se o eleitor é vítima do assalto, porque ele aprova a conduta do ladrão que o vitimou?

Com essa reflexão, acaba de ser firmada a tese de que só existe político ladrão porque tem eleitor disposto a votar nele, independenteemnte do motivo que o anima. Eis a vantagem do debate, do futebol, da filosofia e da realidade que nos cerca.


ATENÇÃO: Leia também n’O Ninho dos Águias comentário sobre a crônica “Uma nova conciência pombalense” do radialista Tony Santos, no link à direita.

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