Enquanto os protestos fervem, começam aparecer as teorias.
Mas qual delas faz algum sentido?
Dilma é “uma verdadeira democrata, mas está sendo esfaqueada pelas costas por políticos tradicionais” (Manuel Castells, sociólogo espanhol à revista ISTOÉ).
“Não há perigo de golpe de Estado. Os corruptos e antidemocráticos já estão no poder: eles são a classe política” (Manuel Castells, sociólogo espanhol à revista ISTOÉ).
Nesses movimentos “sociocibernéticos” não há líderes “e este é o vigor do movimento. Todo mundo é o seu próprio líder”. (Manuel Castells, sociólogo espanhol à revista ISTOÉ).
1) o modelo moderno de representação social, inclusive a política, ruiu.
O brasileiro está dizendo não ao paternalismo, informado pela arrogância da cultura patriarcal, plantada entre nós pelos colonizadores europeus.
O líder, na verdade é uma metáfora do cacique, que decide pelos liderados.
No espaço governado por lideranças, estas decidem o que devemos seguir, geralmente, através de procedimentos facilmente manipuláveis.
2) Nasce a sociedade do “guia”.
O guia é aquele que aponta os caminhos existentes, mas não diz qual o melhor a seguir. Deixa a nosso critério, a escolha da via que atende aos nossos próprios interesses.
O guia não exige, não impõe, apenas colabora, coordena, quando convidado a fazê-lo.
3) Somos seres emocionais linguajeantes (Humberto Maturana Romesín, pensador e biólogo chileno).
O que determina a ação ou omissão humana são emoções, e não a razão ou a ideia, como deseja a modernidade frustrada, que agora desaba no Brasil.
Antes de raciocinar, o indivíduo escolhe as premissas do raciocínio, e essa escolha descansa no domínio emocional, e não no da racionalidade, que nada mais revela que uma adequada relação de coerências operacionais em certo domínio cognitivo.
A emoção de que falamos não é antítese da razão, mas sim uma fenômeno biológico, que se manifesta como uma “disposição corporal dinâmica do nosso sistema nervoso” (Humberto Maturana), que determina a ação ou omissão, diferentemente de meros “sentimentos”.
4) Sem a adequada compreensão da dimensão emocional do ser humano não será possível entendermos os “movimentos sociocibernéticos” que se desdobram no Brasil.
A “liga” das manifestações está na “emoção de unir-se” em torno de projetos comuns (passe livre, PEC 37 etc). O “unir-se” não é senão uma “ação” que denota união, que resulta de um desejo, de uma preferência, de uma escolha.
Até aqui não há nada de racional, mas somente emocional. A racionalidade somente aparece no cálculo das vantagens que podem advir da ação ou omissão, desencadeada por certa emoção, e sempre é vista “a posteriori”, porque não existe racionalidade “a priori”.
Os planos somente são tidos como racionais quando comprovada a eficácia deles, o que geralmente não acontece.
Os resultados das manifestações estão se revelando racionais, porque os objetivos estão se concretizando aos poucos (redução das tarifas, rejeição da PEC 37).
5) A perplexidade que desnorteia a nossa opinião pública (mídia em geral) neste momento, efetivamente, não deriva dos inesperados protestos, porém da maneira de pensar em que se encontram imersos os sujeitos pensantes: a cultura patriarcal europeia, fundada exclusivamente no “racional”.
6) Não existe resposta certa para pergunta errada.
Defendemos a existência de dois modo básicos de pensar a realidade, atualmente: um colonialista, informado pela cultura patriarcal/matriarcal europeia e focado na apropriação, na desconfiança, na arrogância, na competência, no controle, na submissão; e outro pós-colonialista, informado pelo respeito mútuo, pela confiança, amorosidade, colaboração, co-inspiração.
Notem, então, que as classes de moções que informam os referidos sistemas de pensamento são antagônicos. Por isso, não existe pergunta, tampouco resposta trivial.
Sendo assim, se a pergunta for feita no domínio de pensamento colonialista, a resposta só terá sentido se tomar idênticos parâmetros ontológicos e epstemológicos, como, por exemplo, o da universalidade da verdade ou o da objetividade transcendental.
No espaço de pensamento pós-colonialista não cultivamos a suposição da “verdade única” ou absoluta, tampouco transcendente ao observador, o que supõe o respeito à opinião divergente.
Desse modo, uma resposta pós-colonialista, para uma pergunta colonialista, não fará sentido algum, uma vez que são produzidas em domínios de conhecimento diferentes e antagônicos. Pergunta e resposta coerentes supõem o mesmo domínio de realidade, portanto.
Antagonismo não é, porém, sinônimo de desrespeito, no espaço pós-colonialista, senão apenas uma oportunidade de ampliar a reflexão. Ao contrário do que ocorre no espaço colonialista, em que o pensamento divergente é visto como uma ameaça ao outro, na medida em que pode abalar certezas cristalizadas…
O fato é que “todo pensamento racional se escora num fundamento emocional” (Maturana).
Quando privilegio a razão, diminuindo o papel das emoções na conformação do ser humano, nada mais faço que uma opção por certo modelo de pensamento. E essa escolha sempre será emocional, jamais racional, porque se trata de uma preferência, de um desejo, associados ao humor em que me encontro na minha deriva estrutural cambiante e ontogenética.
Dessa forma, a consulta a psicólogos sociais para entendermos o que está acontecendo no Brasil ultimamente é desnecessária. Para tanto, basta fazermos um upgrade em nossa maneira de pensar colonialista, porque, finalmente, o brasileiro, neste instante, encontra-se num domínio pós-colonialista, em cujo espaço as perguntas terão de ser feitas.
Luiz Fernando R. de Sales
05/02/2016
Deivison Conceição
04/11/2015
Gildson Gomes dos Santos
04/11/2014
Gildson Gomes dos Santos
27/09/2014
Luciana Virgília Amorim de Souza
25/09/2014