O ministro da Integração Nacional admite que seu partido pode apoiar um tucano à sucessão de Lula, refuta comparações com ACM e fala de fisiologismo e nepotismo
O PMDB foi o grande vitorioso da eleição municipal deste ano e ninguém espelha melhor seu sucesso do que Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional e cacique da legenda na Bahia. Sua corrente venceu em 33 cidades em 2004. Desta vez, conquistou 115. A musculatura do ministro impressiona até seus aliados. Na Bahia, eles o encaram como potencial adversário do petista Jaques Wagner, que quer se reeleger governador em 2010. Em Brasília, Geddel é visto como uma das alavancas que empurrarão o PMDB para a chapa do PT ou a do PSDB na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esses dilemas ocupam boa parte de seu tempo, mas, na semana passada, Geddel tinha outra preocupação: uma hérnia de disco, revelada por uma bateria de exames médicos. Aos 49 anos, ele luta para evitar que o sobrepeso – 93 quilos para 1,70 metro – comprometa sua saúde.
O presidente Lula pode confiar no PMDB?
Pode. O PMDB não vai apunhalá-lo. Mas também é ilusão achar que vai apoiar um petista para presidente em 2010, 2014, 2018 e assim por diante. Só não haveria dificuldade se o candidato fosse o presidente Lula. Há setores do PMDB que não querem manter a aliança com o PT, mas eu defenderei o apoio ao candidato de Lula. Disputaremos com eles de que lado a legenda estará: se do governo ou da oposição. A verdade, porém, é que os partidos costumam fazer alianças por um tempo determinado. O PMDB não é o PT. É legítimo, portanto, que em dado momento possa tomar uma atitude diferente. A aliança com o PT, a meu ver, é mais coerente, mas eu seguirei a decisão do partido. Nunca vesti outra camisa nem agitei outra bandeira que não a do PMDB. Não pretendo mudar.
O PMDB tem o maior número de prefeitos, deputados e senadores. Por que não disputa a Presidência com um candidato próprio?
O partido não tem quadros à altura para essa disputa. Entre as novas lideranças, há o governador (do Rio de Janeiro) Sérgio Cabral, que merece destaque. Mas não o vislumbro concorrendo à presidência. Ele se voltou integralmente para o Rio e não adotou no cenário nacional posturas que o credenciem como candidato a presidente. Faltam lideranças nacionais no cenário político. Hoje, as únicas lideranças do país são Lula e o governador de São Paulo, José Serra. Há um quadro novo surgindo, mas ainda não testado nas urnas, que é (o governador de Minas Gerais) Aécio Neves. Fora esses nomes, a vida pública nacional é só aridez.
Seu partido está tentando eleger os presidentes da Câmara e do Senado. Se conseguir, o governo se tornará refém do PMDB?
Só acreditaria que Lula se tornaria refém se os líderes do PMDB fossem canalhas que quisessem chantageá-lo. Não penso assim. O partido tem a maioria nas duas Casas e faz uma reivindicação justa. Só que quem quer Justiça recorre às cortes, não faz política. Essas eleições podem solidificar ou esgarçar a relação dos dois maiores partidos da base de Lula, e que, no meu entendimento, devem ser o esteio da candidatura do governo em 2010. É por isso que precisamos encontrar uma solução harmônica. O melhor para o governo é que o PMDB fique com a Câmara e ceda o Senado.
O PMDB tem seis ministérios, inúmeros cargos e aproveita as eleições do Congresso para negociar outros postos. O partido é insaciável?
Se isso está ocorrendo, considero lamentável.
Para que o PMDB quer tantos cargos?
O que está embutido nessa pergunta é a idéia de que os cargos só servem para facilitar o financiamento de campanhas e para fazer outras mutretas. Se isso acontece, cabe aos órgãos de controle e à imprensa denunciar. Quem estiver podre que se exploda, pague seu preço. O que não se pode admitir é que o comportamento de alguns apequene a atividade pública.
Mas para que o PMDB exige ministérios, diretorias de estatais e outros cargos?
A primeira e mais nobre razão é mostrar que pode melhorar o país. A diretoria internacional da Petrobras, que é do PMDB, define investimentos do Brasil no exterior. Onde está a ilegitimidade disso? No pressuposto de que quem assumirá fará negócios espúrios. Esse cargo implica a definição de políticas, assim como a presidência de Furnas. É mesquinha a visão de que todo diretor de estatal é descarado.
O PMDB exigiu a presidência de Furnas e a diretoria internacional da Petrobras em troca da aprovação da CPMF, em uma operação que pareceu chantagem.
Se isso ocorreu, foi um erro. Mas não é verdade que todas as indicações nasçam dessa maneira.
Os catarinenses reclamam de atrasos na liberação de recursos para as vítimas da enchente.
Não houve. Mandamos imediatamente para Santa Catarina comida, colchões, barracas… Eles estão reclamando do atraso do dinheiro para a reconstrução do estado, mas o problema se deve ao governo estadual e aos municipais. Preciso que eles enviem os documetos necessários. Não mando verba pública por telefone. Não faço festa da galinha gorda com dinheiro público: jogar para cima e quem quiser que pegue. Em momentos como este, sempre aparecem oportunistas querendo se projetar em cima da desgraça alheia.
Não é possível facilitar a liberação de recursos em casos como o de Santa Catarina?
Já fizemos isso. Antes, o governo federal exigia 22 documentos para fazer os repasses. Hoje, são quatro. Vou reduzir para três, mas ainda assim os estados e municípios têm dificuldade em enviar os documentos. Até liguei para o governador Luiz Henrique para cobrar esses papéis.
O senhor é o novo ACM?
Sou Geddel Vieira Lima. Não quero me espelhar em um político que combati e que me combateu tanto. Na minha vida, não há perseguições e ataques à honra, práticas que me fizeram ter divergências profundas com o senador Antonio Carlos Magalhães.
O senhor quer mandar na Bahia tanto quanto ele mandou?
Se dissesse que não quero influenciar o destino do meu estado, estaria dizendo que sou um político sem projeto. Mas longe de mim mandar como um coronel, como ACM fez. Sou de outra geração. Sou contemporâneo do futuro, e não escravo do passado.
Quando o senhor chegou ao ministério, o PMDB tinha dezoito prefeitos na Bahia. Em dois anos, passou para mais de 100. Como conseguiu essa proeza?
Foi absolutamente natural. Depois que conquistamos o governo do estado em aliança com o PT, muitos prefeitos que eram ligados a ACM vieram para o PMDB, porque pensaram que, assim, poderiam ter mais verbas, mais obras. Só não foram para o PT porque seria mais difícil se aproximar desse partido.
Para esses prefeitos, o senhor é o novo ACM…
Eles perceberão que o momento é outro e que a filiação ao PMDB não implicará automaticamente o sucesso de sua gestão.
O senhor será candidato a governador da Bahia em 2010?
Pode me chamar de hipócrita e mentiroso se disser que não sonho com o governo da Bahia, mas minha prioridade é preservar a aliança do PMDB com o PT e o governador Jaques Wagner. Só que isso depende muito mais dele do que de mim.
Que garantias o senhor dará ao PT baiano de que não lhe fará oposição em 2010?
É o PT que tem de oferecer garantia. Em 2004, o PT participou da campanha do prefeito de Salvador, João Henrique, ganhou cargos na administração e, depois, lançou um candidato próprio. Que garantia Wagner dará de que vê a mim e ao PMDB como parceiros, e não como simples tempo de TV na campanha eleitoral? Se alguém pode acusar alguém, somos nós. O PT mudou de lado em relação a João Henrique.
O senhor está acusando o PT de traição?
O que ele fez me deixa com o pé atrás em relação a 2010. Para continuar nosso projeto, temos de compartilhar espaços. Não do ponto de vista de verbas, mas de parcerias. Quero ter convicção de que nossos projetos serão respeitados e que contaremos com o apoio do PT. Queremos participar mais na definição de políticas de educação, da saúde, da construção de estradas…
O senhor começou a carreira com o senador ACM e depois se tornou seu inimigo. Não obstante, recorreu ao apoio do deputado ACM Neto nas últimas eleições municipais. Quando o presidente era Fernando Henrique Cardoso, o senhor estava do lado do PSDB. Hoje, está com o PT. Como explica tantas mudanças?
Quem tinha ligação com ACM era meu pai. Apoiei o governo Fernando Henrique Cardoso por decisão de meu partido. Fiz o mesmo em relação à candidatura de José Serra (a presidente pelo PSDB, em 2002). Perdi e fui para a oposição. Em 2006, propus uma repactuação ao povo da Bahia, que entendeu minha situação e me reelegeu deputado federal.
Dá para chamar sua adesão a Lula de programática?
Foi circunstancial, mas, uma vez no ministério, influenciei o governo de forma programática. Outra coisa: o presidente Lula adotou uma política econômica que sempre defendi. É muito próxima à do presidente Fernando Henrique e, por isso mesmo, responsável.
O presidente gostará de ser comparado dessa forma ao seu antecessor?
O presidente é um democrata.
O ministro da Saúde, José Temporão, disse que a Fundação Nacional de Saúde, controlada pelo PMDB, é corrupta. Ele está certo?
Se ele tem informações para dizer isso, conta com meu apoio.
Se ele está certo, não seria co-responsável por manter os envolvidos, e, se está errado, não seria leviano?
Concordo.
O senhor disse que se sentia constrangido pela insistência do ex-senador Luiz Estevão, cassado por corrupção, em disputar cargos. Também se sente assim em relação a Renan Calheiros, que decidiu pleitear a liderança do governo no Senado?
Sim, Renan está constrangendo e expondo o partido de forma desnecessária.
E quanto ao deputado Jader Barbalho, o senhor se sente constrangido?
O Jader tem recato, não está pedindo cargo nenhum. Ele renunciou ao Senado e voltou como deputado absolvido pelas urnas. Está, portanto, legitimado no Parlamento.
O senhor considera que as urnas substituem os tribunais?
Uma vez eleito, o sujeito tem legitimidade para disputar posições no Parlamento.
O senhor aprova o fato de que um acusado de corrupção renuncie para não ser cassado e, depois, tente se reeleger para conquistar imunidade?
Não vou emitir opinião. Na democracia, o juiz é o eleitor. Se a lei permite e o eleitor elege, o político está legitimado.
Como o senhor vê a resistência do Senado a eliminar o nepotismo?
É natural. É da cultura do país. O que sou contra é o abuso e a generalização. Se você bota trinta parentes no gabinete, é um abuso. Também é injusto massacrar uma pessoa competente só porque ela é de sua família.
O senhor já empregou um irmão e sua cunhada em seu gabinete e sua mulher era lotada no gabinete de um de seus correligionários. Foi um abuso?
Não. Minha mulher trabalhava no gabinete do Michel Temer, mas ela não era ainda minha mulher. Meu irmão foi meu braço-direito. Se não houvesse a lei antinepotismo, seria até hoje. Minha cunhada prestava um serviço relevante.
Fonte: VEJA nº 2091, de 17/12/2008 para assinantes clique no link acima.
Luiz Fernando R. de Sales
05/02/2016
Deivison Conceição
04/11/2015
Gildson Gomes dos Santos
04/11/2014
Gildson Gomes dos Santos
27/09/2014
Luciana Virgília Amorim de Souza
25/09/2014