Philippe Bernard
A amplidão das práticas de corrupção nos países pobres representa um obstáculo para os esforços em favor do desenvolvimento e desestimula empréstimos e doações em dinheiro. Esta realidade é qualificada de "catástrofe humanitária permanente" pela organização não-governamental Transparency International (TI), em seu relatório para 2008 que foi publicado na terça-feira, 23 de setembro, em Berlim. Esta nova chamada é divulgada no momento em que uma reunião a respeito do financiamento dos "objetivos do milênio para o desenvolvimento" (saúde, educação, meio-ambiente, etc.) deverá ser realizada na quinta-feira em Nova York, à margem da Assembléia Geral da ONU.
Segundo os autores do relatório da Transparency International, o custo da corrupção "poderia encarecer em 35 bilhões de euros (cerca de R$ 95 bilhões) o montante dos investimentos necessários" para se alcançar esses "objetivos", principalmente nos setores da água e da higiene pública que concentram a metade do orçamento total. A corrupção "constitui uma das razões mais importantes da carência de progressos realizados no caminho da redução da pobreza", sublinha a organização.
Sem que isso venha a constituir qualquer grande surpresa, a Transparency International coloca a Somália e o Iraque nos últimos lugares no seu ranking do "índice de percepção da corrupção", enquanto a Dinamarca, a Nova Zelândia e a Suécia apresentam o melhor desempenho nesta categoria. A França ocupa o 23º lugar entre os 180 países classificados, o que para ela representa um "retrocesso significativo" em relação à sua classificação anterior, da mesma forma que para o Reino Unido, a Itália e a Bulgária. A China ocupa o 72º lugar, a Rússia, o 147º, exatamente entre o Bangladesh e o Quênia. Em contrapartida, alguns "progressos" foram assinalados, principalmente por parte da Albânia, de Chipre, da Geórgia, da Nigéria e da Turquia.
O ranking da Transparency International, que conta com uma ampla repercussão por parte da mídia pelo mundo afora, agrega uma série de dados que foram fornecidos pelos meios de negócios e por analistas do mundo inteiro. Esses dados dizem respeito à freqüência e ao montante das propinas que precisam [ser] pagas para as administrações ou para funcionários ou oficiais políticos. Entretanto, a comparação entre os países, que constitui a parte central do ranking, tem sido criticada por diversos observadores em razão das disparidades existentes entre os inquéritos.
A deterioração da situação que foi constatada em determinados países que entram na categoria dos grandes exportadores – inclusive a França – "deixa pairar algumas dúvidas em relação à capacidade real dos governos de porem fim aos abusos das companhias na condução das suas atividades no exterior", comenta a Transparency International. Essa degradação também vem questionar o mérito das lições de transparência e de "boa governança" que têm sido dadas constantemente aos países pobres.
Tradução: Jean-Yves de Neufville
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