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O dossiê – II

De ELIANE CANTANHÊDE, na Folha de S. Paulo, hoje:

“Nós” e “eles”

BRASÍLIA – “Mexer com bandido não dá certo”, ensinou Lula ontem em entrevista à rede Globo. Falou e disse. Mas falou para quem?

Quem anda comprando dossiê fajuto de bandido são um segurança com gabinete no Planalto, um churrasqueiro dominical da Granja do Torto, um amigão que freqüenta o Alvorada, um graúdo do BB, um dos principais assessores da campanha do Mercadante .

Lula passou a chamar essa turma de “eles”, como fez, na entrevista da semana passada à TV Bandeirantes, com os ex-ministros Palocci, Dirceu e Gushiken, o ex-braço direito de seu ex-braço direito, Waldomiro Diniz, e a cúpula do PT que ruiu sob o mensalão.

São sempre “eu”, “indignado” e “traído”, e “eles”, agindo de forma “imoral” e “abominável”. Como se Lula falasse não dos seus, mas dos ministros, amigos e assessores de um outro presidente, um outro governo, um outro partido.

“Eles” têm uma central para compra de parlamentares e legendas, trazem a turma de Ribeirão Preto para uma mansão de Brasília, quebram o sigilo bancário de um caseiro, ganham Land Rover de empresa com contrato no governo, pedem propina para bicheiro, participam de reuniões no Planalto com empreiteiras e bancos e, num estalar de dedos, sacam R$ 1,7 milhão, sabe-se lá de onde, para pagar dossiê de bandido contra adversário.

“Eles”, portanto, são aqueles a quem o procurador-geral da República chama singelamente de “quadrilha”, estão incriminados pela Polícia Federal e respondem a processo na Justiça. “Eu” é o que não sabe de nada, não viu nada.

Esgotado o primeiro time das suas relações e de seu partido (“eles”), o presidente esconde a estrela vermelha e escala o segundo e o terceiro times para posições estratégicas. Enquanto, claro, o PMDB de Quércia, Newtão e Jader não vem. Talvez, aí sim, ele possa finalmente trocar o “eles” pelo “nós”.”

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